VOCÊ SABIA...que, no
dia 24 de outubro de 1886, a Imperatriz D. THEREZA CRISTINA e o Imperador D.PEDRO
II visitaram Ribeirão Preto? Nem é
preciso dizer o impacto que a presença de tão ilustre casal causou à
florescente cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, incluídos 3.700
escravos. Foram formadas comissões para arrecadar fundos para a recepção. A da Lavoura era constituída, dentre outros, pelos cafeicultores Henrique Dumont e Rodrigo Pereira Barreto. Nesse dia, procedente de Poços de Caldas, de onde saiu às 6,30 h, houve uma parada em São João da Boa Vista, com visita à Câmara, ocasião em que o Imperador deu 02 (duas) Cartas de Liberdade a escravos. Seguindo, SSMM. desceram na Estação Lage, na Fazenda Santa Veridiana, do Conselheiro Antônio Prado, no município de Casa Branca, onde foram visitadas casas de colonos e servidos frutas e café. Depois de uma breve passagem festiva por São Simão, o trem da Cia. Mogiana chegou às 19 h, com muito atraso, à pequena
estação, ainda provisória, defronte ao Solar Villalobos (hoje, av. Caramuru), onde ali o esperavam,
além do chefe do Executivo e Presidente da Câmara, Luiz Antônio da
Cunha Junqueira, do Partido Republicano Paulista, os vereadores monarquistas,
demais autoridades e uma grande multidão. Não foi esclarecida a razão da chegada não ter sido realizada na estação definitiva. Talvez por que ainda não estaria totalmente acabada, muito embora tivesse sido inaugurada em 07/09/1885. Possivelmente teria sido em razão de não terem sido concluídas, por parte da Câmara Municipal (Poder Executivo), as obras de saneamento, bem como o acesso à estação. Da comitiva imperial, faziam parte o presidente da Província de S.Paulo e da Cia. Mogiana, Antônio de Queiroz Telles, o 2° Barão de Jundiaí, depois Conde de Parnaíba; o ministro da agricultura, conselheiro Antônio Prado; o Barão de Sabóia, Vicente Cândido Figueira de Sabóia, médico particular do Imperador; Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra, o Barão de Jaguara; João Lustosa da Cunha Paranaguá, o Visconde de Paranaguá; o general Jose de Miranda da Silva Reis; representantes da imprensa, dentre os quais Carlos de Laet, pela "Gazeta de Notícias", do Rio de Janeiro. Era um domingo. Notícia de jornal diz que houve um solene desfile (marche au flambeaux) e nada mais foi escrito. Há, porém, a versão de que a chuva era torrencial. Tinham sido
programados fogos de artifícios, missa em ação de graças, cavalhadas, desfile
em carruagem e baile de gala. Apenas o último acabou sendo realizado. Como a
chuva não parava e os troles estivessem enlameados, o transporte da comitiva
imperial, da estação até o palacete do líder monarquista e cafeicultor Cel. Rodrigo
Pereira Barreto, irmão do cientista Luiz Pereira Barreto, localizado no início
da Vila Tibério, pela atual rua Luiz da Cunha, teve de ser feito em liteiras
carregadas por escravos. Sobre as razões da visita, o pretexto foi a
inauguração oficial da estação da Mogiana, em Batatais-SP, no dia seguinte. Contudo, impõe-se a
análise daquele momento histórico. Ribeirão Preto e região, dada a sua produção
cafeeira, começavam a ter relevo no cenário político. Por aqui, diferentemente do Vale do Paraíba e da região de Campinas, não havia Barões e Viscondes, títulos honoríficos concedidos pela Monarquia. A distância da Corte
incentivava o apoio de seus coronéis do café e outras patentes da Guarda Nacional ao movimento republicano,
muito forte em São Paulo, em decorrência da fundação do Partido Republicano Paulista - PRP - em 18/04/1873. Desde a instalação do Município (12/02/1874) e durante o restante do Poder Imperial, todos Chefes do Executivo e a grande maioria da Câmara Municipal foram eleitos pelo PRP. Havia uma insatisfação generalizada dos terratenentes (grandes proprietários)
com o processo de se por fim à escravidão, o que viria acontecer dois anos
depois. Em face desse contexto, D. Pedro II não escolheu esta parte do estado de São Paulo por
acaso (esteve também em Casa Branca e Descalvado). Logicamente, pensava em angariar apoio
político, enfim, na sua própria sobrevivência. O que veio a acontecer, porém, no
âmbito local, regional e Nacional foi que se ampliaram as adesões ao movimento republicano, tendo, em 1888, o Imperador partido para a Europa, para cuidar da saúde, deixando na Regência a princesa Isabel, que, no dia 13/05/1888, assinou a LEI ÁUREA, libertando os escravos e apressando a queda da Monarquia. No dia 27/08/1889,
provavelmente sentindo a iminente queda da monarquia, o líder monarquista local, Cel. Rodrigo Pereira
Barreto, inobstante ter tido intensa participação na vida social e política da cidade, e ter sido o anfitrião de Suas Majestades Imperiais, vir a vender para Martinho Prado (pai) e para os filhos
Martinho Jr, e Antônio Prado, a promissora
fazenda “Eldorado” (depois São Martinho),
com cerca de 10 mil alqueires (uns falam 8 mil, outros 14 mil), por 800 contos, bem como o solar, que hospedara o Imperador Pedro II e
D. Tereza Cristina, transferindo residência para São Paulo. Ainda a propósito da visita imperial, o casal doou 200$000, para a construção do Cemitério da Saudade e 100$000, para os pobres. Uma das versões sobre o nome do "café bourbon" sustenta que, em retribuição a essa generosidade e em homenagem à Imperatriz Thereza Cristina, da dinastia dos Bourbon, do Reino das Duas Sicílias, o cientista Luiz Pereira Barreto deu o nome de "Bourbon" à espécie de café, cuja pesquisa desenvolvera. Igualmente o Cel. João Franco de Moraes Otávio nomeou de "Bourbon" uma espécie de manga. Todavia, a grande lacuna até hoje existente é a ausência de fotos do grande acontecimento. Estranha-se, pois o imperador era grande entusiasta da fotografia (Daguerreótipo), tendo sido considerado, além de dadivoso mecenas, um dos primeiros fotógrafos do Brasil. Nesse sentido, impossível que nenhum fotógrafo estivesse presente na comitiva. O imperador, por sua vez, se não sensibilizou a elite cafeeira, ao menos deixou marca indelével na população. Com efeito, em 1930, quando da inauguração do Theatro construído pela Cia. Cervejaria Paulista, o jornal A CIDADE promoveu um concurso para a escolha do nome, tendo vencido D. PEDRO II, por larga margem. De se lembrar, ainda, que, no dia 25/10/1934, foram comemorados os 48 anos da visita de D. Pedro II a Ribeirão Preto (1886), procedendo-se à inauguração de uma placa de bronze no prédio em que foi hospedado na ocasião, situado à rua Luiz da Cunha n. 2, então Chácara do Cel. Rodrigo Pereira Barreto. Foi um oportuno evento para a preservação da memória histórica do município. O único senão foi que a Comissão Organizadora, coordenada pelo Cônego Francisco de Assis Barros, ao elaborar a placa cometeu um erro, gravando o nome do imóvel como sendo "Antigo Solar Martinho Prado", como se, na época, o edifício pertencesse a ele, sendo que, em verdade e como acentuado acima, apenas posteriormente houve a aquisição (27/06/1889). Quando foi afixada, o imóvel servia de residência para o gerente da Cia. Antarctica, já que a fábrica o adquirira por ser confrontante. A placa, com esse engano, encontra-se atualmente afixada nas dependências do Museu Histórico e de Ordem Geral, no Campus da Usp.
VEJA NARRATIVA DA PRESENÇA DO CASAL IMPERIAL EM BATATAIS-SP:
https://batataishistoria.blogspot.com/2012/09/o-imperador-e-sua-corte-em-batatais.html
VEJA VÍDEO SOBRE DOM PEDRO II, NO LINK:
https://www.youtube.com/watch?v=27p6cBtdWAg
VEJA QUEM FOI O ANFITRIÃO DO CASAL IMPERADOR, CEL. RODRIGO
PEREIRA BARRETO
http://www.plataformaverri.com.br/index.php?local=voceSabia&mes=12&dia=28
VEJA O ROTEIRO, PELA CIA, MOGIANA, DO CASAL IMPERIAL DE POÇOS DE CALDAS A RIBEIRÃO PRETO (Notícia quase no final do texto)
http://www.estacoesferroviarias.com.br/l/lage.htm