Tomando por base a fase histórica de 1.945 a 1.964, e analisando as mudanças havidas na economia local, de base eminentemente agrária para uma crescente industrialização, a autora procurou avaliar em que medida essa transformação teria contribuído para as mudanças no sistema político do município de São Carlos. No período anterior a 1.945, com a economia dominada pela cafeicultura, o mando local era exercído pelos grandes proprietários de terra, cuja alternância no poder, quando havia, em nada alterava essa posição. Em São Carlos, apesar da crise de 29, Revolução de 30 e instituição do Estado Novo em 1.937, a bipolarização entre os remanescentes das famílias terratenentes, ou seja ""botelhistas" versus "Sallistas", persistiu. Foi com a democratização, passagem do regime autoritário para o regime representativo, em 1.945, e reformulação da legislação partidária, permitindo a criação de diversos partidos, que houve, de fato, a ruptura com o passado. Passou a existir uma dezena de partidos, possibilitando a muitos segmentos da sociedade civil a representação. Sociedade Civil derivada da urbanização, da industrialização e da constituição de entidades livres, o que não acontecia na época do mandonismo rural e do regime autoritário do Estado Novo. Em São Carlos, foi organizado o diretório da UDN ( União Democrática Nacional), por iniciativo do médico, Dr. Ernesto Pereira Lopes. No PSD ( Partido Social Democrático) engajaram-se remanescentes dos grupos "Botelhista" e do gruo "Sallista", cujos nomes mais expressivos foram Carlos de Camargo Salles, Emílio Fehr e Aldo de Cresci. O PTB ( Partido Trabalhista Brasileiro) organizou-se graças a Antonio Donato e Domingos Mazzei. O PSP ( Partido Social Progressista) tinha como principais membros José Paulo Spallini, Francisco Xavier do Amaral Filho, Leôncio Zambel e Alderico Vieira Perdigão. O PTN ( Partido Trabalhista Nacional) teve como líderes Antonio Massei, Orlando Marques, José Bento Carlos do Amaral e Bruno Panhoca. O que diziam, entre os militantes, para distinguir um partido do outro, é que a UDN era o partido do "Patrão", enquanto os demais eram do "Povo". Foi a partir dessa estrutura partidária que ficou caracterizado o chamado "populismo", doutrina e prática política, tanto de esquerda como de direita, que prega a defesa dos interesses das camadas não privilegiadas da população, mas que frequentemente se limita a ações de cunho paternalista, angariando o voto popular. Ainda cada diretório partidário estava permeado pelo personalismo. A UDN era o partido de Ernesto Pereira Lopes, o grande polarizador das eleições locais. O PTN, o partido de Antonio Massei e de Hugo Borghi, na esfera estadual. O PSP era o partido de Adhemar de Barros. O PTB era o partido de Ivete Vargas, cuja base eleitoral era a Previdência Social. No âmbito local, no que diz respeito à eleição majoritária para prefeito geralmente concorriam apenas dois candidatos que formava-se duas coligações: Uma capitaneada pela UDN, de Pereira Lopes, que só ganhou uma vez, em 1.959, quando se aliou ao PSD e ao PRP e a outra, com diversos partidos, geralmente coordenada por Antonio Massei (PTN)e composta pelo PSP, PTB e outras de caráter marcadamente populista que obtinham a maior parte dos votos entre o operariado, explorando a luta de classe, sobretudo "malhando" Pereira Lopes, o Patrão. Já´para a eleição proporcional o quadro mudava. Parece que havia um consenso na cidade, objetivando defender o interesse local, no sentido de que ela tivesse representantes no legislativo estadual e federal. Desse modo, e porque ele tinha poder financeiro para sustentar as despesas da campanha em âmbito local e regional, o povo votava em um candidato da esquerda, para deputado estadual e em Ernesto Pereira Lopes, para deputado federal, dado o seu prestígio em Brasília, em aparente contradição. A Autora Maria Teresa Miceli Kerbauy possui Graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (1968), Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1979), Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992) e Pós-Doutorado em Ciência Política pelo Instituto de Iberoamérica - Espanha (2011). Tem experiência na área de Políticas Públicas, Governo Local, Gestão Pública, Comportamento Eleitoral e Partidos Políticos, atuando principalmente nos seguintes temas: federalismo e descentralização, representação e participação, poder local, gestão da comunicação, educação, executivo e legislativo, pesquisas eleitorais, sistemas partidários e sistemas eleitorais. Bolsa Produtividade em Pesquisa.
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